quinta-feira, 13 de agosto de 2009

QUESTÃO DE GOSTO

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É a cena mais comum que existe. “Cara, deixa eu te mostrar o novo CD que eu comprei! Conhece a banda xxx?”, diz seu amigo, todo empolgado, falando de uma banda que você nem imaginava que existisse.

“Que som massa, os caras são muito loucos!” “Olha essa música aqui!” E você lá: “legal…” Também, temos que ser educados, não é? Aí, no dia em que você quer mostrar aquela música que você nunca enjoa de ouvir, parece que ele não está nem aí. Você quer que ele conheça o artista que você curte, igual ele fez no outro dia, mas parece que ele só quer falar dos assuntos dele.

Dizer que “cada um tem seu gosto” é infantil. Todo mundo sabe (?) disso. Todo mundo diz isso a toda hora.

Daí vem o cara que tem mil CDs e vinis com músicas eruditas: sinfonias, sonatas, fugas, tocatas, concertos de tudo que é tipo, de compositores que deixaram suas marcas nos séculos, como Mozart e Beethoven, interpretadas por orquestras européias e grandes tenores e sopranos, e diz que a música popular é um lixo e está cada vez pior.

Depois vem aquele senhor que cresceu ouvindo bossa nova e diz que o Renato Russo não tem nada de especial.

Tem o metaleiro que diz que o rock está morto.

Aquela mãe conservadora que acha o rap um absurdo.

Aquela estudante de cursinho em cuja roda cult só se fala em MPB, tem que esconder que curte a Avril Lavigne.

Depois EU venho, declarando para os quatro cantos que não há uma canção sequer de pagode, axé, sertanejo e funk carioca que me agrade. (1)

Depois vem alguém da minha família dizendo que eu sou bitolado em ouvir Mark Knopfler (2) e sua antiga banda, a Dire Straits, o dia inteiro, sem parar.

Ou seja, poucos reconhecem de verdade que gosto é igual ao dedão do pé esquerdo, ou seja, cada um tem o seu.

Que a música que provoca impacto em mim não vai provocar o mesmo impacto no meu amigo. Na verdade, a música é uma das coisas mais pessoais que existem.

Pior ainda, eu que não reconheço que estou virando um chato a dar lições de moral. Cadê aquele meu humor ácido, crítico? Pronto, tomei minha dose de Escrachaprina 1780mg, logo vai fazer efeito. Até a próxima!

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(1) Se gosto é gosto, os ouvintes dessas músicas têm todo o direito de tirar delas o prazer que eu tiro das bandas de rock antigas, da música clássica e das baladas pop que marcaram época. Só sinto um certo pesar por achar que eles perdem muito não apreciando a beleza elaborada dessas músicas, em favor de outras de assimilação mais fácil — mas vai saber se eles não sentem algo parecido em relação a mim…

(2) Aquele sujeito no último retrato, com a guita na mão. O cara toca e compõe muuuuuuito! Na próxima encarnação eu vou ser como ele, prometo.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ABAIXO A A CRASE!

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A Língua Portuguesa vai passar por uma reforma. “Putz, demorou!”, pensei assim que fiquei sabendo. No entanto, quando vi o que estava mudando na nossa língua, fiquei super-hiper-mega-giga-decepcionado. Nada contra as mudanças que foram aprovadas, se elas forem de fato facilitar a vida de quem tem dificuldade com as palavras atingidas por elas. Mas o que eu esperava mesmo, a Mudança das Mudanças, a retirada daquilo que há de mais podre no idioma, isso simplesmente parece que não passou pela cabeça dos geeks que decidiram as mudanças: o fim da maldita CRASE!!!

Eu domino bem a crase. Minha mãe é professora de português e tem uma porrada de gramáticas em casa. Não vou explicar aqui como ela funciona porque eu quero que este seja um blog interessante — e aula de crase é um porre. Minha intenção não é provar que eu sei usá-la, e sim meter o pau nela. Provar o quanto ela é inútil ao nosso idioma.

Para começar, vamos pegar uma frase qualquer que use a crase (a a força, é lógico):

ENTREGUEI A A MARIANA A CARTA DE AMOR.

Se você ler a frase como se ela estivesse escrita certinha (sem meus “A A” revoltados), notaria alguma diferença de pronúncia? Mude o acento grave para o outro “A”. A pronúncia muda? O SENTIDO muda? Pois diga agora: em que um enfeitezinho que só aparece na linguagem escrita, nunca na falada, colabora para que um idioma seja prático de usar?

Minha mãe argumenta que o uso incorreto da crase a as vezes gera ambigüidades (meu último adeus ao trema, que se vai como uma paixão curta e extrema!). Vejamos:

I. OS TRABALHADORES CORREM A CIDADE EM BUSCA DE EMPREGO.

II. OS TRABALHADORES CORREM À CIDADE EM BUSCA DE EMPREGO.

Pois bem, penso que até neste caso a queda da crase será positiva. Na primeira frase, o sentido é “os trabalhadores circulam pela cidade”; na segunda, “correm para a cidade”. Ora, se os sentidos são esses, não seria melhor escrever as frases assim e pronto? Nesses casos, o fim da crase vai nos obrigar a pensar melhor nas palavras que usamos. Ponto para a boa comunicação!

Um poeta é um artista da linguagem. Trabalha com as palavras, seus sons, seus cheiros, cores e tudo mais, a fim de criar no leitor uma sensação, qualquer que seja. Vamos lembrar os grandes poetas da Língua Portuguesa: Camões, Fernando Pessoa, Castro Alves, Vinicius de Moraes, Mário Quintana, etc., etc. e mais etc. Criaram rimas riquíssimas, souberam como ninguém encaixar frases em padrões onde o número de sílabas por verso é rigidamente definido, fizeram jogos de palavras de cair o queixo. Agora, fale-me um poema em que algum deles usou a p**** da crase como RECURSO ARTÍSTICO. Nem pra isso a dita-cuja presta, pô! (Agora, se alguém citar algum exemplo, meus humildes parabéns! Poste seu comentário que quero conferir pessoalmente.)

Pois não é que ela é a protegidinha dos professores e gramáticos? Estes defendem um monte de regras complicadíssimas, dizendo onde você e eu devemos enfiar o tal acento grave e onde não devemos (não pensei nenhuma besteira, viu?). O brasileiro parece que não assimila a crase de jeito nenhum. Não por culpa dele próprio, mas pela falta do hábito de leitura. Acrescente que a crase não é nada na linguagem falada, e isso a torna alienígena, algo que não faz parte da realidade de ninguém, servindo só para complicar mais a língua de um povo que sofre com uma educação de péssima qualidade.

Para concluir, conte quantos “a a” eu escrevi neste post e perceba como a crase me foi úúúúútil!! Quase não precisei dela. Fora a a crase!

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domingo, 9 de agosto de 2009

ANO 10.000 d.C.

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Todos os povos do mundo estão em festa. Nasceu hoje o milionésimo habitante do planeta. Gente de todos os lugares fará longas peregrinações para ver o bebê. Os sábios, porém, estão preocupados.

Diz a lenda que, há milhares e milhares de anos, o mundo teve bem mais que um milhão de pessoas. A Terra estava simplesmente entupida de gente. Nossos antepassados viviam em disputa pelos escassos recursos. Os líderes cagavam e andavam para seus povos. E havia uns poucos que possuíam quase tudo, não precisando sequer depender do líder de seu povo. Este, sim, é que dependia desses afortunados, e dos afortunados de outros povos.

E era justamente para defender os interesses desses afortunados que os líderes de seus povos os apoiavam e guerreavam com os outros povos. Pois um povo não era poderoso porque seu líder era genial, e sim porque entre eles havia quem possuísse recursos dispersos em todo o planeta. Eles eram o poder. Seus povos e seus líderes dependiam deles.

A grande ameaça, no entanto, era o Grande Cogumelo de Fumaça. Naquela guerra sem fim, incríveis armas foram criadas por nossos ancestrais, muito melhores que essas lancinhas de ferro que usamos hoje. Milhões eram mortos todos os dias por elas. Mas nenhuma podia fazer frente ao Grande Cogumelo de Fumaça. Era a arma mais letal de todas. Contam os sábios que, naqueles tempos, duas cidades foram arrasadas, cada uma por um Grande Cogumelo, já quando a arma foi estreada.

Rapidamente, o progresso levou ao desenvolvimento de novos detonadores de cogumelos, cada vez mais poderosos. E os Cogumelos passaram a ter o poder de devastar a vida no planeta.

Para nossos sábios, a dúvida maior era saber que porra era um “cogumelo”. Outros escritos antigos diziam que era uma das espécies de seres vivos que habitavam a terra, e que foram destruídas pelo Grande Cogumelo de Fumaça. A fumaça lembrava um cogumelo, e o nome pegou. Os sábios dos novos tempos têm que ralar muito se quiserem entender o que se passou com nossos ancestrais, já que o Cogumelo acabou com praticamente todos os registros.

O Cogumelo era a ameaça, mas os líderes primitivos logo perceberam que, se o disparassem contra o inimigo, morreriam também, tão grande era seu poder de destruição. Um dispara, o outro revida, e num instante todos estariam mortos. E por séculos os povos ficaram tranqüilos quanto ao problema, já que nenhum líder, por mais sanguinário que fosse, ia arriscar seu cu de bobeira. E a matança prosseguia, só que com armas comuns mesmo.

Mas, contam nossos sábios, o mundo estava tão caótico que nunca se sabia qual era a próxima costura a rasgar. Dizem eles que pessoas do mundo todo gostavam de usar substâncias que os deixavam doidões. Os líderes, oficialmente, condenavam a prática, pois isso pegava muito, mas muito mal. Mas na surdina, vai saber... E num belo dia um líder, desses loucos que costumavam aparecer de vez em quando e guerreavam com todo mundo em volta, chapadaço, detona um Cogumelo numa terra inimiga que ficava do outro lado do mundo, para que o tiro não pegasse em seu povo. Mas não adiantou nada, pois o calor e os raios destruidores se espalharam pelo ar e atingiram também, ainda que em menor escala, seu povo (até seu pai teria ficado cego...). Não bastasse isso, em questão de minutos sua terra estava sendo bombardeada por outro Cogumelo. Pronto. Novamente dois Cogumelos de Fumaça, mas desta vez o mundo inteiro foi para o espaço. Só sobrou um gato pingado aqui e ali para contar a história, um sem uma perna, outro sem um braço, e por aí vai.

E dessa espécie sem juízo nas idéias evoluiu a nossa. O que preocupa os sábios é se essa criança que nasceu hoje irá manter o legado de preservação e harmonia dos antepassados pós-Cogumelo. Por enquanto estamos indo bem.

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