domingo, 9 de agosto de 2009

ANO 10.000 d.C.

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Todos os povos do mundo estão em festa. Nasceu hoje o milionésimo habitante do planeta. Gente de todos os lugares fará longas peregrinações para ver o bebê. Os sábios, porém, estão preocupados.

Diz a lenda que, há milhares e milhares de anos, o mundo teve bem mais que um milhão de pessoas. A Terra estava simplesmente entupida de gente. Nossos antepassados viviam em disputa pelos escassos recursos. Os líderes cagavam e andavam para seus povos. E havia uns poucos que possuíam quase tudo, não precisando sequer depender do líder de seu povo. Este, sim, é que dependia desses afortunados, e dos afortunados de outros povos.

E era justamente para defender os interesses desses afortunados que os líderes de seus povos os apoiavam e guerreavam com os outros povos. Pois um povo não era poderoso porque seu líder era genial, e sim porque entre eles havia quem possuísse recursos dispersos em todo o planeta. Eles eram o poder. Seus povos e seus líderes dependiam deles.

A grande ameaça, no entanto, era o Grande Cogumelo de Fumaça. Naquela guerra sem fim, incríveis armas foram criadas por nossos ancestrais, muito melhores que essas lancinhas de ferro que usamos hoje. Milhões eram mortos todos os dias por elas. Mas nenhuma podia fazer frente ao Grande Cogumelo de Fumaça. Era a arma mais letal de todas. Contam os sábios que, naqueles tempos, duas cidades foram arrasadas, cada uma por um Grande Cogumelo, já quando a arma foi estreada.

Rapidamente, o progresso levou ao desenvolvimento de novos detonadores de cogumelos, cada vez mais poderosos. E os Cogumelos passaram a ter o poder de devastar a vida no planeta.

Para nossos sábios, a dúvida maior era saber que porra era um “cogumelo”. Outros escritos antigos diziam que era uma das espécies de seres vivos que habitavam a terra, e que foram destruídas pelo Grande Cogumelo de Fumaça. A fumaça lembrava um cogumelo, e o nome pegou. Os sábios dos novos tempos têm que ralar muito se quiserem entender o que se passou com nossos ancestrais, já que o Cogumelo acabou com praticamente todos os registros.

O Cogumelo era a ameaça, mas os líderes primitivos logo perceberam que, se o disparassem contra o inimigo, morreriam também, tão grande era seu poder de destruição. Um dispara, o outro revida, e num instante todos estariam mortos. E por séculos os povos ficaram tranqüilos quanto ao problema, já que nenhum líder, por mais sanguinário que fosse, ia arriscar seu cu de bobeira. E a matança prosseguia, só que com armas comuns mesmo.

Mas, contam nossos sábios, o mundo estava tão caótico que nunca se sabia qual era a próxima costura a rasgar. Dizem eles que pessoas do mundo todo gostavam de usar substâncias que os deixavam doidões. Os líderes, oficialmente, condenavam a prática, pois isso pegava muito, mas muito mal. Mas na surdina, vai saber... E num belo dia um líder, desses loucos que costumavam aparecer de vez em quando e guerreavam com todo mundo em volta, chapadaço, detona um Cogumelo numa terra inimiga que ficava do outro lado do mundo, para que o tiro não pegasse em seu povo. Mas não adiantou nada, pois o calor e os raios destruidores se espalharam pelo ar e atingiram também, ainda que em menor escala, seu povo (até seu pai teria ficado cego...). Não bastasse isso, em questão de minutos sua terra estava sendo bombardeada por outro Cogumelo. Pronto. Novamente dois Cogumelos de Fumaça, mas desta vez o mundo inteiro foi para o espaço. Só sobrou um gato pingado aqui e ali para contar a história, um sem uma perna, outro sem um braço, e por aí vai.

E dessa espécie sem juízo nas idéias evoluiu a nossa. O que preocupa os sábios é se essa criança que nasceu hoje irá manter o legado de preservação e harmonia dos antepassados pós-Cogumelo. Por enquanto estamos indo bem.

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